O dia em que um UX Writer se aventurou no Visual Law. Deu certo?

Seu próximo colega de trabalho pode ser um…advogado. E, se você é advogado, não se assuste quando um designer for o próximo contratado de sua equipe.

Ué, agora o escritório vai ficar moderninho como uma agência de publicidade?

Calma. Vamos por partes.

Visual Law é um dos campos de estudo do chamado Legal Design. Segundo Margaret Hagan, autora do e-book Law By Design, é possível defini-lo assim:

O Legal Design é a aplicação do design, com foco nas pessoas, ao mundo do Direito. Com isso, tornam os serviços jurídicos mais acessíveis e satisfatórios.

Os advogados vão trocar a legislação pelo Photoshop?

Jamais.

Por isso, é importante destacar: design não é deixar algo com visual atraente. É oferecer soluções baseadas na melhor experiência dos usuários.

Com o exemplo a seguir, vai ficar mais fácil de você entender.

Por que ler se posso apenas concordar?

Tem coisa mais chata do que ler termos e condições de um produto? A experiência só não é tão chata….porque ninguém o lê.

Por isso, a startup Koin criou o primeiro “termos e condições” em que todos podem ler, entender e concordar.

Nada de leis ou textos que parecem indecifráveis.

Com uma linguagem clara e objetiva, o projeto, feito em parceria entre as áreas de marketing e jurídico da empresa, tem aquilo que um bom design precisa: facilitar a informação, foco no usuário e no contexto.

Para saber mais sobre este trabalho, eu recomendo a live da Aline Steinwacher com o Manoel Barbosa e o Fábio Cendão.

Além disso, para conhecer mais sobre Legal Design e Visual Law, o podcast da Ana Holtz é uma excelente fonte.

E onde entra o UX Writing nessa história?

É isso que tentei descobrir 🙂

Por isso, criei um projeto inspirado na Koin. Como sou apaixonado por cachorros – apesar de não ter nenhum -, aproveitei para transformar o “termos e condições” da Zee.Dog em algo mais acessível aos clientes.

Afinal, o conteúdo original tem cerca de 3 páginas e meia no Word. Com o perdão do trocadilho, ler isso é chato para cachorro.

UX RESEARCH

1 – Quem são os clientes da Zee.Dog?

Pelas redes sociais, é possível verificar que a faixa etária dos clientes da Zee.Dog está entre 25 e 40 anos. Sem dúvida, o público feminino é majoritário, mas os clientes homens também se fazem presentes.

Todos, obviamente, apaixonados por cachorros.

2 – Como eles falam?

O Davi Defensor apresentou nesta live uma ferramenta muito boa, chamada Voyant. Com ela, é possível analisar diversas características de um texto, como a densidade de palavras.

Para esse projeto, selecionei 2629 palavras, retiradas dos comentários feitos pelos próprios clientes no Instagram da Zee.Dog.

O resultado está abaixo.

Esse universo de palavras, mesmo pequeno, mostrou que boa parte dos usuários usam “pra”, em vez de “para”, e “vcs” em vez de “vocês”.

3 – Acessibilidade.

Para o novo termos e condições, usar a palavra “pra” é possível. Por outro lado, usar “vcs” pode confundir clientes com deficiência visual e que necessitam de um cão-guia.

Afinal, como esse público usa softwares que transformam o texto em áudio, nem sempre é possível usar abreviações ou neologismos. Dessa forma, decidi usar apenas a palavra “você”.

Não custa lembrar de novo.

Design não é tornar algo mais bonito, e sim pensar nos usuários.

4 – Tom e Voz da Marca.

A gente cria e desenvolve produtos de expressão, que ajudam a tornar a sua vida e a de seu cachorro muito mais cool.

O texto acima está no site da marca. A linguagem é jovem, coloquial e sempre na primeira pessoa do plural.

Em alguns casos, como na frase em destaque, é usado “a gente” em vez de “nós”, o que torna a comunicação ainda mais informal.

5 – Menos palavras. Sempre Direito.

O termos e condições da Zee.Dog tem exatamente 1291 palavras.

Nesse caso, o desafio do projeto era criar um novo documento, com um número menor de palavras, e sem perder a essência do seu conteúdo.

O objetivo Visual Law não é transformar uma petição, por exemplo, em uma peça cheia de gráficos ou em um resumo.

A proposta é levar inovação ao Direito por meio do design, e assim torná-lo mais efetivo, rápido e acessível, tanto para profissionais da área como para a população.

Afinal, há necessidade de alguém ler o tópico abaixo, retirado do termos e condições original?

Site: conjunto de páginas ou lugar no ambiente da Internet ocupado com CONTEÚDO de uma empresa ou de uma pessoa.

Não, né?

Hora da mão na massa.

Antes da execução – tanto o texto para o blog como o novo termos e condições -, organizei em post-its todas as etapas do projeto. Utilizei ainda duas outras ferramentas muito simples: papel e caneta.

Quanto ao projeto final, eu o criei no site australiano Canvas. É uma ferramenta gratuita e muito fácil de trabalhar.

Destaco ainda outros pontos importantes quanto ao design:

– A fonte usada para o texto é a Muli, muita parecida com a fonte encontrada no site da Zee.Dog.

– Ainda baseado no site, escolhi para o documento apenas as cores preto e cinza.

Com isso, se mantém a identidade da marca.

Por último, fiz esse texto com a ajuda da calculadora de leiturabilidade, criada pela UX Writer Nataly Lima.

Espero que tenha ficado fácil de ler 🙂

Resultado

Considerações Finais.

É preciso deixar claro que o “termos e condições” acima tem apenas efeitos educativos, sem qualquer finalidade econômica, e/ou validade jurídica. O documento original é esse aqui.

Quanto à Zee.Dog, fiquem tranquilos. É uma marca muito legal, e seu cachorro vai adorar os brinquedinhos que eles vendem lá.

Fiz este projeto para aprender sobre Legal Design, e também para mostrar como ele pode aproximar o Direito das pessoas.

Quanto ao Visual Law, é um campo vibrante, tanto para advogados como para outros especialistas, incluído designers gráficos, UX Designers, UX Researchers e até UX Writers.

Vai que…

Afinal, o Direito é importante demais para ficar recluso apenas entre aos bacharéis da área.