A OLX tem algo novo para se apegar: Visual Law.

O Visual Law surgiu para a gente desapegar do Direito feito para poucos.

Até aí, tudo bem.

Mas o que o maior site de compra e venda do Brasil tem a ver com isso?

Tudo.

Afinal, ninguém fala tanto de desapego como a OLX.

Por isso, chegou o momento:

Que tal desapegarmos do “Termos e Condições Gerais de Uso” da marca ?

Vem comigo, porque o fim dessa história eu conto daqui a pouco.

Desapega! Desapega!

O tom e voz da OLX.

Um dos primeiros passos para a criação de um documento como esse é conhecer

o tom e voz da marca.

Nada adianta a empresa ter uma comunicação jovem, e apresentar um “Termos e Condições” repleto de juridiquês.

O que vai acontecer, você já sabe:

ninguém vai ler.

Por isso, é tão importante que as marcas tenham um guia de estilo.

Como exemplo, você pode conferir o Content Style Guide da Mailchimp.

É coisa fina 🙂

Tentei encontrar um material da OLX como esse, mas sem sucesso.

Além disso, as postagens nas redes sociais soavam confusas.

Uma hora escrita na primeira pessoa do singular, outra hora na primeira pessoa do plural.

Em alguns casos, a linguagem neutra de gênero é usada de forma indevida, com o uso do “x” no lugar do artigo feminino ou masculino.

Para usuários com dislexia ou cegos, que necessitam de softwares de áudio, a experiência pode ser bastante confusa.

Como não tenho acesso ao guia de estilo, a solução para esse projeto é apresentar o tom e a voz da marca que sejam compatíveis com os posts da OLX nas mídias digitais e com os conteúdos institucionais.

Quem desapega na OLX?

Seria muita ousadia da minha parte tentar definir, ainda mais sem trabalhar na empresa, o perfil dos usuários da OLX.

Os anunciantes, espalhados por todo o Brasil, vendem desde caros imóveis até presentes no valor de R$ 20,00.

Mas algo me chamou atenção:

a formatação dos anúncios.

Independente do produto ou serviço, algumas características eram constantes.

– Entre 15 e 45 palavras por anúncio.

Texto feito em tópicos.

Frases curtas.

O anúncio abaixo é um exemplo perfeito.

Por isso, o novo “Termos e Condições” da OLX será baseado nessa formatação.

Interface dos usuários.

Em artigo recente, Kate Moran escreveu sobre o comportamento de leitura dos usuários na Web.

Nele, os pesquisadores confirmam:

as pessoas raramente leem online.

Na verdade, elas “escaneam” o texto.

Por meio de estudos de “eyetracking”, Kate mostra como

os usuários acabam fazendo um “zig zag” pelo layout.

Como exemplo, ela destaca esse projeto para a Apple,

e como o olhar da pessoa se comportou.

UX Writing em ação.

No livro Redação Estratégica para UX, de Torrey Podmajersky, a autora afirma:

as palavras fazem as experiências funcionarem.

Com isso em mente, o texto para o novo “Termos e Condições”  da OLX será criado com base em um checklist do Google, apresentado de forma brilhante nesse artigo escrito por Guy Ligertwood.

Segundo ele, o conteúdo precisa:

– Ter foco nos usuários.

Clareza.

– Ser “escaneável”

– Ser útil (Escreva de uma maneira que direcione a próxima ação)

– Ter o uso correto do tom e voz da marca.

O Projeto Final

Para o design gráfico, usei apenas as cores institucionais da marca OLX.

Desapega, OLX!

Será que a OLX vai mudar o formato do seu “Termos e Condições?”

Não temos como saber.

Por via das dúvidas, o meu projeto para a OLX está à venda na…OLX.

Isso mesmo!

Obviamente, não estou a cobrar nenhum valor por isso.

Mas ao menos é uma bela desculpa para eles me chamarem para um café na sede do bairro do Flamengo/RJ 🙂

Conclusão

Assim como no meu post sobre a Zee.Dog, é preciso deixar claro que o “Termos e Condições” acima tem apenas efeitos educativos, sem qualquer finalidade econômica, e/ou validade jurídica. O documento original é esse aqui.

Espero que tenham gostado do resultado tanto quanto eu 🙂

O dia em que um UX Writer se aventurou no Visual Law. Deu certo?

Seu próximo colega de trabalho pode ser um…advogado. E, se você é advogado, não se assuste quando um designer for o próximo contratado de sua equipe.

Ué, agora o escritório vai ficar moderninho como uma agência de publicidade?

Calma. Vamos por partes.

Visual Law é um dos campos de estudo do chamado Legal Design. Segundo Margaret Hagan, autora do e-book Law By Design, é possível defini-lo assim:

O Legal Design é a aplicação do design, com foco nas pessoas, ao mundo do Direito. Com isso, tornam os serviços jurídicos mais acessíveis e satisfatórios.

Os advogados vão trocar a legislação pelo Photoshop?

Jamais.

Por isso, é importante destacar: design não é deixar algo com visual atraente. É oferecer soluções baseadas na melhor experiência dos usuários.

Com o exemplo a seguir, vai ficar mais fácil de você entender.

Por que ler se posso apenas concordar?

Tem coisa mais chata do que ler termos e condições de um produto? A experiência só não é tão chata….porque ninguém o lê.

Por isso, a startup Koin criou o primeiro “termos e condições” em que todos podem ler, entender e concordar.

Nada de leis ou textos que parecem indecifráveis.

Com uma linguagem clara e objetiva, o projeto, feito em parceria entre as áreas de marketing e jurídico da empresa, tem aquilo que um bom design precisa: facilitar a informação, foco no usuário e no contexto.

Para saber mais sobre este trabalho, eu recomendo a live da Aline Steinwacher com o Manoel Barbosa e o Fábio Cendão.

Além disso, para conhecer mais sobre Legal Design e Visual Law, o podcast da Ana Holtz é uma excelente fonte.

E onde entra o UX Writing nessa história?

É isso que tentei descobrir 🙂

Por isso, criei um projeto inspirado na Koin. Como sou apaixonado por cachorros – apesar de não ter nenhum -, aproveitei para transformar o “termos e condições” da Zee.Dog em algo mais acessível aos clientes.

Afinal, o conteúdo original tem cerca de 3 páginas e meia no Word. Com o perdão do trocadilho, ler isso é chato para cachorro.

UX RESEARCH

1 – Quem são os clientes da Zee.Dog?

Pelas redes sociais, é possível verificar que a faixa etária dos clientes da Zee.Dog está entre 25 e 40 anos. Sem dúvida, o público feminino é majoritário, mas os clientes homens também se fazem presentes.

Todos, obviamente, apaixonados por cachorros.

2 – Como eles falam?

O Davi Defensor apresentou nesta live uma ferramenta muito boa, chamada Voyant. Com ela, é possível analisar diversas características de um texto, como a densidade de palavras.

Para esse projeto, selecionei 2629 palavras, retiradas dos comentários feitos pelos próprios clientes no Instagram da Zee.Dog.

O resultado está abaixo.

Esse universo de palavras, mesmo pequeno, mostrou que boa parte dos usuários usam “pra”, em vez de “para”, e “vcs” em vez de “vocês”.

3 – Acessibilidade.

Para o novo termos e condições, usar a palavra “pra” é possível. Por outro lado, usar “vcs” pode confundir clientes com deficiência visual e que necessitam de um cão-guia.

Afinal, como esse público usa softwares que transformam o texto em áudio, nem sempre é possível usar abreviações ou neologismos. Dessa forma, decidi usar apenas a palavra “você”.

Não custa lembrar de novo.

Design não é tornar algo mais bonito, e sim pensar nos usuários.

4 – Tom e Voz da Marca.

A gente cria e desenvolve produtos de expressão, que ajudam a tornar a sua vida e a de seu cachorro muito mais cool.

O texto acima está no site da marca. A linguagem é jovem, coloquial e sempre na primeira pessoa do plural.

Em alguns casos, como na frase em destaque, é usado “a gente” em vez de “nós”, o que torna a comunicação ainda mais informal.

5 – Menos palavras. Sempre Direito.

O termos e condições da Zee.Dog tem exatamente 1291 palavras.

Nesse caso, o desafio do projeto era criar um novo documento, com um número menor de palavras, e sem perder a essência do seu conteúdo.

O objetivo Visual Law não é transformar uma petição, por exemplo, em uma peça cheia de gráficos ou em um resumo.

A proposta é levar inovação ao Direito por meio do design, e assim torná-lo mais efetivo, rápido e acessível, tanto para profissionais da área como para a população.

Afinal, há necessidade de alguém ler o tópico abaixo, retirado do termos e condições original?

Site: conjunto de páginas ou lugar no ambiente da Internet ocupado com CONTEÚDO de uma empresa ou de uma pessoa.

Não, né?

Hora da mão na massa.

Antes da execução – tanto o texto para o blog como o novo termos e condições -, organizei em post-its todas as etapas do projeto. Utilizei ainda duas outras ferramentas muito simples: papel e caneta.

Quanto ao projeto final, eu o criei no site australiano Canvas. É uma ferramenta gratuita e muito fácil de trabalhar.

Destaco ainda outros pontos importantes quanto ao design:

– A fonte usada para o texto é a Muli, muita parecida com a fonte encontrada no site da Zee.Dog.

– Ainda baseado no site, escolhi para o documento apenas as cores preto e cinza.

Com isso, se mantém a identidade da marca.

Por último, fiz esse texto com a ajuda da calculadora de leiturabilidade, criada pela UX Writer Nataly Lima.

Espero que tenha ficado fácil de ler 🙂

Resultado

Considerações Finais.

É preciso deixar claro que o “termos e condições” acima tem apenas efeitos educativos, sem qualquer finalidade econômica, e/ou validade jurídica. O documento original é esse aqui.

Quanto à Zee.Dog, fiquem tranquilos. É uma marca muito legal, e seu cachorro vai adorar os brinquedinhos que eles vendem lá.

Fiz este projeto para aprender sobre Legal Design, e também para mostrar como ele pode aproximar o Direito das pessoas.

Quanto ao Visual Law, é um campo vibrante, tanto para advogados como para outros especialistas, incluído designers gráficos, UX Designers, UX Researchers e até UX Writers.

Vai que…

Afinal, o Direito é importante demais para ficar recluso apenas entre aos bacharéis da área.